Diagnósticos Psiquiátricos

DIAGNÓSTICOS PSIQUIÁTRICOS

Capítulo 2. Espectro da Esquizofrenia e Outros Transtornos Psicóticos

Transtorno Psicótico Breve

Transtorno Psicótico Breve 298.8 (F23)

Critérios Diagnósticos

A. Presença de um (ou mais) dos sintomas a seguir. Pelo menos um deles deve ser (1), (2) ou (3):

1. Delírios.
2. Alucinações.
3. Discurso desorganizado (p. ex., descarrilamento ou incoerência frequentes).
4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico.

Nota: Não incluir um sintoma que seja um padrão de resposta culturalmente aceito.

B. A duração de um episódio da perturbação é de, pelo menos, um dia, mas inferior a um mês, com eventual retorno completo a um nível de funcionamento pré-mórbido.

C. A perturbação não é mais bem explicada por transtorno depressivo maior ou transtorno bipolar com características psicóticas, por outro transtorno psicótico como esquizofrenia ou catatonia, nem se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica.

Especificar se:

  • Com estressor(es) evidente(s): (psicose reativa breve): Se os sintomas ocorrem em resposta a eventos que, isoladamente ou em conjunto, seriam notadamente estressantes a quase todos os indivíduos daquela cultura em circunstâncias similares.
  • Sem estressor(es) evidente(s): Se os sintomas não ocorrem em resposta a eventos que, isoladamente ou em conjunto, seriam notadamente estressantes a quase todos os indivíduos daquela cultura em circunstâncias similares.
  • Com início no pós-parto: Se o início é durante a gestação ou em quatro semanas após o parto.

Especificar se:

Com catatonia (consultar os critérios para catatonia associada a outro transtorno mental, p. 119-120, para definição)

Nota para codificação: Usar o código adicional 293.89 (F06.1) de catatonia associado ao transtorno psicótico breve para indicar a presença da comorbidade com catatonia.

Especificar a gravidade atual:

A gravidade é classificada por uma avaliação quantitativa dos sintomas primários de psicose, o que inclui delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento psicomotor anormal e sintomas negativos. Cada um deles pode ser classificado pela gravidade do momento (mais grave nos últimos sete dias) em uma escala com 5 pontos, variando de 0 (não presente) a 4 (presente e grave). (Ver Gravidade das Dimensões de Sintomas de Psicose Avaliada pelo Clínico no capítulo “Instrumentos de Avaliação.”)

Nota: O diagnóstico de transtorno psicótico breve pode ser feito sem a utilização desse especificador de gravidade.

Características Diagnósticas

A característica essencial do transtorno psicótico breve consiste em uma perturbação que envolve o aparecimento repentino de pelo menos um dos seguintes sintomas psicóticos positivos: delírios, alucinações, discurso desorganizado (p. ex., descarrilamento ou incoerência frequente) ou comportamento psicomotor grosseiramente anormal, incluindo catatonia (Critério A). Início súbito é definido como uma mudança de um estado não psicótico para um estado claramente psicótico em duas semanas, geralmente sem um pródromo. Um episódio da perturbação tem duração mínima de um dia, ainda que inferior a um mês, e a pessoa eventualmente tem um retorno completo ao nível de funcionamento pré-mórbido (Critério B). A perturbação não é mais bem explicada por transtorno depressivo ou transtorno bipolar com características psicóticas, por transtorno esquizoafetivo ou por esquizofrenia, nem atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., um alucinógeno) ou a outra condição médica (p. ex., hematoma subdural) (Critério C).

Além das cinco áreas de domínio dos sintomas identificadas nos critérios diagnósticos, a avaliação dos sintomas dos domínios cognição, depressão e mania é fundamental para que sejam feitas distinções importantes entre os vários transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos.

Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico

Pessoas com transtorno psicótico breve costumam vivenciar turbulência emocional ou grande confusão. Podem apresentar mudanças rápidas de um afeto intenso a outro. Ainda que a perturbação seja breve, o nível de prejuízo pode ser grave, podendo haver necessidade de supervisão para garantir o atendimento às necessidades nutricionais e higiênicas e para que a pessoa fique protegida das consequências de julgamento insatisfatório, prejuízo cognitivo ou atos baseados em delírios. Parece haver risco aumentado de comportamento suicida, particularmente durante o episódio agudo.

Prevalência

O transtorno psicótico breve, nos Estados Unidos, pode responder por 9% dos casos de primeiro surto psicótico. As perturbações psicóticas que atendem aos Critérios A e C, mas não ao Critério B, para transtorno psicótico breve (i.e., a duração dos sintomas ativos é de 1 a 6 meses em oposição à remissão em 1 mês) são mais comuns em países em desenvolvimento do que em países desenvolvidos. O transtorno psicótico breve é duas vezes mais comum no sexo feminino do que no masculino.

Desenvolvimento e Curso

O transtorno psicótico breve pode aparecer na adolescência e no início da fase adulta, podendo ocorrer durante a vida toda, com idade média de início situando-se aos 30 anos. Por definição, um diagnóstico de transtorno psicótico breve exige remissão completa de todos os sintomas e eventual retorno completo ao nível de funcionamento pré-mórbido em um mês do aparecimento da perturbação. Em algumas pessoas, a duração dos sintomas psicóticos pode ser muito breve (p. ex., alguns dias).

Fatores de Risco e Prognóstico

Temperamentais. Transtornos e traços de personalidade preexistentes (p. ex., transtorno da personalidade esquizotípica, transtorno da personalidade borderline ou traços de psicoticismo, como desregulação perceptiva, e no domínio da afetividade negativa, como desconfiança) podem predispor o indivíduo ao desenvolvimento do transtorno.

Questões Diagnósticas Relativas à Cultura

É importante distinguir sintomas do transtorno psicótico breve dos padrões de resposta culturalmente aceitos. Por exemplo, em algumas cerimônias religiosas, uma pessoa pode relatar ouvir vozes, mas em geral elas não persistem e não são percebidas como anormais pela maioria dos membros da comunidade. Além disso, antecedentes culturais e religiosos devem ser levados em conta quando se considera se as crenças são delirantes.

Consequências Funcionais do Transtorno Psicótico Breve

Apesar das elevadas taxas de recaída, para a maioria das pessoas, o desfecho é excelente em termos de funcionamento social e sintomatologia.

Diagnóstico Diferencial

  • Outras condições médicas. Uma variedade de distúrbio médicos pode se manifestar com sintomas psicóticos de breve duração. Transtorno psicótico devido a outra condição médica ou a delirium é diagnosticado quando há evidências oriundas da história, do exame físico ou dos testes laboratoriais que demonstram que os delírios ou as alucinações são consequência fisioló- gica direta de determinada condição médica (p. ex., síndrome de Cushing, tumor cerebral) (ver “Transtorno Psicótico Devido a Outra Condição Médica” mais adiante neste capítulo).
  • Transtornos relacionados a substâncias. Transtorno psicótico induzido por substância/ medicamento, delirium induzido por substância e intoxicação por substância são diferentes do transtorno psicótico breve pelo fato de que uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, exposição a uma toxina) é considerada etiologicamente relacionada aos sintomas psicóticos (ver “Transtorno Psicótico Induzido por Substância/Medicamento” mais adiante neste capítulo). Exames laboratoriais, como detecção de drogas na urina ou nível de álcool no sangue, podem ser úteis para o julgamento clínico, da mesma forma que uma história criteriosa do uso de substância, com atenção às relações temporais entre a ingestão da substância e o aparecimento dos sintomas e à natureza da substância que está sendo usada.
  • Transtornos depressivo e bipolar. O diagnóstico de transtorno psicótico breve não pode ser feito se os sintomas psicóticos são mais bem explicados por um episódio de humor (i.e., os sintomas psicóticos ocorrem exclusivamente durante um episódio depressivo maior, maníaco ou misto pleno).
  • Outros transtornos psicóticos. Se os sintomas psicóticos persistirem por um mês ou mais, o diagnóstico é de transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, transtorno depressivo com características psicóticas, transtorno bipolar com características psicóticos, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado, dependendo dos outros sintomas na apresentação. O diagnóstico diferencial entre transtorno psicótico breve e transtorno esquizofreniforme é difícil quando os sintomas psicóticos entraram em remissão antes de completar um mês em resposta a um tratamento medicamentoso bem-sucedido. Deve ser dada atenção à possibilidade de que um transtorno recorrente (p. ex., transtorno bipolar, exacerbações agudas recorrentes da esquizofrenia) seja responsável por quaisquer episódios psicóticos recorrentes.
  • Transtornos factício ou simulação. Um episódio de transtorno factício, com predominância de sinais e sintomas psicológicos, pode parecer um transtorno psicótico breve; todavia, em casos assim, há evidências de que os sintomas foram produzidos de forma intencional. Quando a simulação envolve sintomas aparentemente psicóticos, costuma haver evidência de que a doença está sendo simulada em prol de um objetivo compreensível.
  • Transtornos da personalidade. Em determinados indivíduos com transtornos da personalidade, estressores psicossociais podem precipitar períodos breves de sintomas psicóticos. Esses sintomas são geralmente transitórios e não justificam um diagnóstico separado. Se os sintomas psicóticos persistirem por pelo menos um dia, pode ser apropriado um diagnóstico adicional de transtorno psicótico breve.

(Fonte: DSM-5)

O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais empreenda qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.