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Uso frequente de maconha aumenta risco de desenvolver transtornos mentais e causa perda de QI

A maconha é a droga ilícita mais utilizada no mundo. Normalmente, ela é a porta de entrada para o uso de outras substâncias, como álcool e tabaco. O uso da maconha é cada vez mais precoce e preocupa a comunidade científica, já que a adolescência é uma época crucial para o desenvolvimento e maturação do cérebro .

De acordo com um o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Brasil tem 1,5 milhão de usuários de maconha. A pesquisa também revelou que cerca de 8 milhões de adultos já experimentaram a droga alguma vez na vida. Deste total, mais da metade usou antes dos 18 anos. Entre os adolescentes de 14 a 18 anos, 470 mil revelaram que o primeiro contato com a droga aconteceu antes dos 18 anos .

É importante explicar que nem todas as pessoas que experimentam a maconha se tornam dependentes. Estima-se que 10% dos indivíduos passam a usar todos os dias e de 20 a 30% passa a consumir semanalmente. São denominados usuários pesados ou regulares aqueles que fumam todo dia ou quase todos os dias .

Um pouco mais sobre a maconha

A maconha é uma mistura de folhas e flores verdes ou secas, de uma planta chamada Cannabis sativa. É considerada uma droga perturbadora do sistema nervoso central (SNC), mas pode ser chamada também de droga alucinógena. Os efeitos da maconha são causados pelo seu princípio ativo, o THC (delta-9-tetrahydrocannabinol). A dose de THC pode variar de acordo com alguns fatores, como a procedência e a forma como é consumida. No Brasil, a forma mais comum de consumo ainda é em formato de cigarro .

Um dos fatos que mais preocupam a comunidade científica é que as técnicas modernas de produção da maconha estão potencializando os efeitos da droga. Para se ter uma ideia, nos anos 60/70, um cigarro de maconha tinha por volta de 0,5 a 1% de TCH. Hoje, a mesma quantidade de maconha pode ter de 20 a 30%, ou seja, o usuário atual de maconha está exposto a doses 15 vezes mais fortes que há 50 anos .

E, por que isso é relevante? Ao considerarmos os efeitos do THC no cérebro, consumir altas doses dessa substância pode causar sérias consequências para a saúde mental, já que os maiores prejuízos causados pelo uso da maconha são os transtornos mentais. Vários estudos têm relacionado o uso crônico da maconha com o aumento dos índices da ansiedade, depressão, bipolaridade e esquizofrenia. Alguns desses estudos mostram que quanto mais cedo, frequente e prolongado for o uso, maior o risco de desenvolver transtornos psiquiátricos. Estima-se que jovens que usam a substância têm 5 vezes mais chance de desenvolver depressão e ansiedade mais tarde, ao longo da vida.

A maconha, usada de forma frequente, também provoca déficits de aprendizagem, afeta a memória, a atenção e a capacidade motora. Recente estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) mostrou que o uso de maconha na adolescência causa prejuízos neuropsicológicos na idade adulta, incluindo redução de 8 pontos no QI médio (da infância para a idade adulta) .

Sabe-se que o cérebro dos adolescentes é especialmente vulnerável aos efeitos neurotóxicos da maconha, assim como de outras substâncias psicoativas, como álcool e tabaco. Nessa fase da vida, os sistemas neuronais do córtex cerebral pré-frontal e do córtex parietal, responsáveis pela formulação do pensamento de maior complexidade e das funções executivas do adulto normal, precisam se tornar mais eficientes por meio da eliminação de sinapses irrelevantes e do fortalecimento das essenciais. Esse processo de “poda” e melhora do processamento de sinais é sensivelmente prejudicado pela ação do THC e de alguns outros compostos da maconha.


Maconha aumenta risco de desenvolver esquizofrenia

A esquizofrenia é um transtorno mental que afeta, aproximadamente, 1,1% da população em geral. Costuma surgir nos homens no final da adolescência ou por volta dos 20 anos e nas mulheres é mais comum ao redor dos 30 anos. A doença se caracteriza por alterações no pensamento, afetividade e comportamento que afetam de forma desastrosa a vida do paciente, assim como de familiares e amigos. Os sintomas são chamados de positivos e negativos e incluem comportamentos bizarros, ilusões paranoides, alucinações, desordens do pensamento, alteração da afetividade, impulsividade, agressividade, desapego, entre outros.

A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica grave e irreversível, que deteriora as respostas afetivas, as funções cognitivas e a interação social. Por isso, em parte corresponde ao conceito de demência. Em 2013, o psiquiatra britânico Robin Murray, um dos principais pesquisadores da esquizofrenia, alertou para uma mudança conceitual da doença. Segundo o médico, a esquizofrenia é uma síndrome, com múltiplas causas genéticas e ambientais, incluindo o uso de drogas, como a maconha.

O primeiro estudo que investigou a relação do uso de maconha com o desenvolvimento de esquizofrenia acompanhou 50 mil jovens durante 15 anos . Os resultados mostraram uma correlação positiva e dosedependente entre o início precoce de uso de maconha e o diagnóstico posterior de esquizofrenia em homens jovens. Em 2002, foi realizada uma revisão desse estudo e os pesquisadores descobriram que as pessoas que usaram maconha mais de 50 vezes na fase da adolescência tinham 3,1 vezes mais risco de desenvolver esquizofrenia . Nesse mesmo ano, outros três estudos mostraram taxas semelhantes em 4 mil jovens holandeses (2,8 vezes); em 9700 jovens israelenses (2 vezes); em 1034 jovens neozelandeses (3,1 vezes) .

Em pacientes esquizofrênicos, o THC pode piorar os sintomas e anular o efeito da medicação. Em pessoas saudáveis, o THC pode causar uma gama de sintomas parecidos com os da esquizofrenia.

Por fim, em 2012, um estudo publicado na Biological Psychiatry mostrou que a variação do gene AKT1 exerce influência no risco de desenvolver transtornos psicóticos em usuários crônicos de maconha. Isso quer dizer que se há a predisposição genética, o uso continuado da maconha é decisivo para a manifestação da esquizofrenia. O estudo mostrou que o uso diário da maconha em pessoas com a alteração genética aumenta em 7 vezes o risco de desenvolver o transtorno .

Portanto, o uso da maconha na adolescência e juventude é prejudicial e causa danos neuropsicológicos irreversíveis, assim como aumenta o risco de desenvolver transtornos mentais, como a esquizofrenia. Torna-se urgente, frente a todas as evidências científicas, que os jovens tomem consciência dos prejuízos que o uso crônico da maconha pode causar. Essa discussão deve ser incentivada em todos os âmbitos da sociedade, para assim assegurar a saúde e a segurança dos nossos jovens.

Abuso e dependência de Maconha

Levantamento Nacional de Álcool e Drogas

Revisão Científica: maconha e saúde mental

Persistent cannabis users show neuropsychological decline from childhood to midlife

O Papel da Cannabis na Etiopatgenese da Esquizofreniaup

CANNABIS AND SCHIZOPHRENIA A Longitudinal Study of Swedish Conscriptsthelancet.com

Cannabis use and the risk of developing a psychotic disorder

Cannabis use and psychosis: A longitudinal population-based studynet

Interpreting the association between cannabis use and increased risk for schizophrenia

Cannabis use in adolescence and risk for adult psychosis: longitudinal prospective study

Confirmation that the AKT1 (rs2494732) genotype influences the risk of psychosis in cannabis users.

Leia mais: Transtornos mentais relacionados a Cannabis, conforme classificação diagnóstica do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, American Psychiatric Association).


O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais empreenda qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.