Quem não tem uma história para contar, de peripécias e traquinagens de infância, que não envolva como cúmplices irmãos e primos?
Estudos demonstram que a relação entre irmãos e primos tem influência considerável no desenvolvimento social e emocional do individuo adulto. Apesar dos principais modelos de educação dos filhos serem os pais, a influência dos irmãos e primos também deve ser considerada na formação da personalidade e do caráter de cada pessoa. Os irmãos e primos são os modelos “informais” de comportamentos, são aqueles que, no futuro, serão a ponte mais importante com o passado da família.
Apesar de todo o avanço tecnológico e da globalização, a família continua sendo a instituição mais importante de qualquer sociedade. Se o homem progride e se transforma, é interessante notar que a família, que existe há séculos, continua sendo vital e insubstituível para o ser humano. A família desempenha um papel de extrema relevância no desenvolvimento da criança, assegurando seu crescimento saudável, sua sociabilização e os comportamentos básicos de comunicação. É a família que estimula a criança a se relacionar com o meio físico e social, assim como se adaptar às exigências da sociedade.
Crescer em uma família onde existam outras crianças transforma o ambiente dos infantes, em termos sociais, cognitivos e emocionais. Os primos podem ser considerados um pouco menos que irmãos, mas muito mais que amigos, já que também compartilham toda a cultura, a tradição e as histórias familiares. É importante incentivar essa relação, pois os primos e irmãos juntos irão construir histórias, aventuras e dividir os valores familiares por toda a vida.
Único, caçula ou primogênito?
O vínculo fraternal, que se inicia na infância e se prolonga durante toda a nossa vida, tem poder emocional para modelar a história de quem nós somos e de quem nós seremos. Embora os pais sempre queiram acreditar que o amor entre irmãos deve ser incondicional, o fato é que a competição e os sentimentos ambíguos sempre estarão presentes no relacionamento entre irmãos. A convivência com vários irmãos é sempre positiva, entretanto é uma relação de conflitos e rivalidade constantes, cujo objetivo é atrair a atenção e aprovação dos pais.
O irmão mais velho é sempre um modelo para os mais novos. O irmão do meio é aquele que quase sempre não tem um papel definido. Já o caçula leve o título de mimado e, via de regra, merece mais atenção, por ser o mais novo membro da família. E o que falar do filho único? Dados recentes do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o número de filhos caiu de 2,8 para 1,9 em dez anos. Também podemos observar a configuração de uma nova família, formada pelos casamentos entre casais que têm filhos de outros casamentos e, assim os irmãos ganham novos irmãos, biológicos ou não.
E como os pais devem lidar com os filhos, únicos ou não? Em primeiro lugar é preciso respeitar as características individuais. É importante que os pais entendam que cada filho, embora submetido ao mesmo contexto e as mesmas regras de educação, é um ser único. Cabe aos genitores incentivar o potencial de cada um e não ressaltar os defeitos. Ninguém é bom em absolutamente tudo. Um filho pode ser excelente nos esportes, o outro em jogos de raciocínio. Um filho pode ser ótimo com a matemática e o outro um excelente escritor. Pesquisas mostram que temos inúmeros talentos, mas muitas vezes, por cobrança externas ficam adormecidos. Cabe aos pais reconhecer as habilidades de cada filho e incentivar o aprimoramento, sem gerar competição ou sentimentos de rivalidade entre os irmãos.
Entretanto, a rivalidade e a competição, mesmo quando não incentivadas pelos pais, são inerentes à relação entre irmãos. Os pais devem deixar que as crianças encontrem maneiras próprias de lidarem e solucionarem estes conflitos. Quando necessário, os genitores devem agir como mediadores, impondo limites e reforçando junto aos pequenos que as diferenças existem e devem ser respeitadas. Essa relação, se conduzida de maneira adequada, permitirá à criança construir e manter relações mais saudáveis fora do ambiente familiar.
Quando a criança é filho único, a convivência com os primos torna-se vital, pois muitas vezes o primo irá funcionar como um irmão para esta criança e facilitará o relacionamento dela com pessoas de fora da família. Se por um lado o filho único é um desafio, famílias numerosas também enfrentam outras dificuldades. O relacionamento fraterno é uma das experiências mais enriquecedoras e desafiadoras do ser humano. Mas como diz o verso da música “Filtro Solar” –Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passadoe possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.
Primos: nossos eternos amigos
A percepção de que a família núcleo – pai, mãe e irmãos, está inserida em um núcleo maior é importante para a criança valorizar sua origem, sua história. Os primos possuem um atrativo diferenciado dentro da família: com eles as crianças podem brincar de igual para igual, aprontar travessuras, falar a mesma língua. Geralmente, quando a criança começa a se abrir para o mundo exterior, e relacionar-se com outras da mesma faixa etária, os primos são os amigos mais próximos e esta relação irá facilitar a busca de novas amizades, fora do ambiente familiar.
Um bom exercício para pais que se sentem inseguros em permitir que seus filhos durmam na casa de amiguinhos, é deixa-los dormir na casa dos primos. A criança não se sentirá como uma estranha e estará distante o suficiente para comportar-se bem. Além disso, os pais terão mais liberdade para ligarem e saberem do filho a qualquer hora. Embora cada família tenha seu estilo de educação, o fato dos pais serem irmãos facilita o convívio e a troca de experiências, pois a raiz da cultura familiar é mesma ou muito parecida.
A interação entre os primos e irmãos fortalece toda a história familiar, propagando para as futuras gerações os valores e a cultura de cada grupo. Além disso, ninguém entende melhor nossa família que nossa própria família. E é muito bom, quando adultos, ter muitas histórias para contar e para rir! Esta é uma relação de afeto e amizade que, quando construída e estimulada desde cedo, permanece por toda a vida.