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Criança pode ter depressão?

Sim! A depressão, que afeta 18% da população brasileira e mais de 400 milhões em todo o mundo, também pode se desenvolver nas crianças. Entretanto, foi somente na década de 70 que houve o reconhecimento da depressão infantil como um transtorno psiquiátrico. Nos últimos anos, muitos estudos foram realizados para compreender a depressão infantil e suas consequências.

Para os leigos, ou seja, para pessoas que não são profissionais da área de saúde, é difícil entender como uma criança pode ter depressão, já que, teoricamente, a infância é um período em que não há preocupações, estresse ou problemas. Contudo, os pais, pediatras e educadores precisam estar atentos ao sofrimento infantil, pois ele existe e pode levar ao desenvolvimento de diversos problemas emocionais, incluindo a depressão, com impactos importantes no processo cognitivo e comportamental da criança.

A depressão infantil é diferente da que atinge uma pessoa adulta. Esse deve ser o ponto de partida do diagnóstico e também serve de alerta para os pais e educadores. Assim como nos adultos, a depressão infantil é consequência de fatores biopsicossociais.

Do ponto de vista biológico, é possível afirmar que a doença se desenvolve por uma provável disfunção nos neurotransmissores, causada por herança genética ou por falhas em algumas áreas do cérebro. Quando um dos pais tem depressão, o risco da criança desenvolver o transtorno é três vezes maior, principalmente quando há fatores de risco ambientais associados, como abuso físico e sexual, perda ou ausência de um dos pais, ou perda de um irmão ou amigo íntimo.

Características como baixa autoestima e falta de autoconfiança também são fatores de risco para desenvolver a depressão infantil. Em relação aos fatores sociais, a maior parte das crianças com esse transtorno enfrenta dificuldades na vida familiar, escolar e social.

Quando não diagnosticada e tratada, a depressão infantil influencia de forma negativa no desenvolvimento emocional e cognitivo da criança, assim como traz consequências para a vida em geral.

Sinais e sintomas

Como diferenciar os sintomas da depressão infantil dos comportamentos típicos da infância? Essa é uma questão fundamental quando se fala em transtornos psiquiátricos infantis. Nem sempre uma criança triste tem depressão, que na infância pode se manifestar por meio da agressividade, da irritabilidade e da agitação psicomotora.

A depressão infantil pode se caracterizar por sintomas físicos e emocionais. Entretanto, as crianças têm dificuldade de dizer o que sentem, fator que atrasa ainda mais o diagnóstico. Em geral, tristeza, medo, problemas de sono e rendimento escolar baixo são indícios de que é preciso procurar ajuda especializada. As queixas físicas frequentes também devem ser levadas em consideração, como dor de cabeça, dor abdominal, diarreia, falta ou excesso de apetite.

Vale ressaltar que os sintomas também podem variar de acordo com a faixa etária. Em geral, nas crianças menores de cinco anos, há presença de sinais como crises de choro, melancolia, enurese (urinar na cama) e encoprese (eliminação voluntária de fezes), pesadelos, regressão das funções psicomotoras e insônia.

Em crianças entre 6 e 12 anos, os sintomas são diferentes, como problemas de relacionamento, baixo rendimento escolar, irritabilidade, agressividade, tédio, alterações no peso, no apetite, dores de cabeça e de estômago.

Depressão infantil: como entender melhor os sintomas

  • Humor depressivo ou irritável: a tristeza nas crianças nem sempre é perceptível, ou vivida da mesma maneira que nos adultos. O humor deprimido pode se manifestar como irritação e choro fácil.
  • Anedonia: perda do interesse em atividades prazerosas, como brincar, ficar com os amigos, etc. A criança procure se isolar e reclama que tudo é chato, nada lhe agrada.
  • Baixa autoestima: a criança se expressa de maneira diferente, por isso é preciso ficar atento ao que ela diz, como por exemplo: “não sou ninguém”, “não tenho importância”.
  • Desesperança: queixas sobre falta de amor ou amizade são importantes, a criança dá indícios que não se sente amada, querida e desejada.
  • Falta de autoconfiança: uma vez que a autoestima está abalada, a criança evita certas atividades com medo de falhar, ou porque não acredita em si mesma.
  • Culpa: a criança pode se sentir culpada e emitir frases como “eu só atrapalho mesmo” “eu faço tudo errado”.
  • Pensamentos mórbidos: a criança não consegue lidar com situações frustrantes e costuma se expressar com frases como: “eu não queria ter nascido” ou “eu preferia morrer”.
  • Problemas de atenção e concentração: prejuízos na vida escolar, sem outros motivos,. A criança afirma que não consegue entender as matérias e se recusa a fazer as atividades escolares.
  • Distúrbios do sono: tipicamente, a criança pode se recusar a dormir, apresentar terror noturno ou até ter pesadelos.
  • Problemas com o apetite: o mais comum é a falta de apetite, a criança deixa de comer, se recusa ou simplesmente só come o que ela quer.
  • Ansiedade: a criança apresenta comportamentos ansiosos, mesmo em situações corriqueiras, como ir para a escola. Também pode ter fobias (medos) e pensa constantemente que algo ruim pode acontecer, principalmente com os pais.

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O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais empreenda qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.