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Síndrome de Burnout: quando o trabalho adoece!

Você já ouviu falar de “Síndrome de Burnout”?

A expressão inglesa Burnout significa “queima total” e foi utilizada pela primeira vez na Psicologia na década de 70 pelo psicólogo Herbert Freudenberger, para descrever o sentimento de fracasso e exaustão causado por um excessivo desgaste de energia e recursos. Inicialmente o Burnout se referia somente ao trabalho nas áreas saúde e educação, devido ao alto grau de envolvimento emocional do profissional com pacientes e alunos, mas hoje em dia o termo tem sido usado para se referir ao efeito de depleção em todo e qualquer trabalho.

Assista à entrevista da jornalista Claudete Troiano com Dr. Gabriel Magalhães Lopes a respeito da Síndrome do Esgotamento Profissional:

Atualmente, o Burnout é definido como

“Um processo de coping comprometido: depleção de energia devido a stresse não aliviado, falta de apoio e de relações, conflitos entre as expectativas e a realidade” (International Council of Nurses, 2010, p. 41)

Embora a Síndrome de Burnout seja, por definição, um problema relacionado ao trabalho, ela pode se desdobrar para fora deste. Pode gerar problemas interpessoais fora do trabalho (relacionamento com cônjuge, família e amigos), problemas pessoais (perturbações psicossomáticas, insônia, uso de álcool e/ou drogas, hostilidade, paranóia, medo, ansiedade depressão) e problemas comportamentais que regroagem sobre o próprio trabalho (absentismo, atrasos e diminuição na qualidade do trabalho).

Mas o que causa a Síndrome de Burnout?

O Burnout é causado pelo envolvimento duradouro em um trabalho que exige muito emocionalmente e, ao mesmo tempo, frustra as expectativas e motivações pessoais do trabalhador, combinação essa que produz um estresse situacional crônico. A pesquisadora americana Christina Maslash identificou seis áreas principais que podem predispor a Síndrome de Burnout: a sobrecarga de trabalho, a falta de controle, o sentimento de recompensa insuficiente, a ausência de comunidade, a falta de justiça e o conflito de valores entre o indivíduo e sua atividade de trabalho.

Quanto à estrutura de trabalho, organizações ou chefes que utilizam métodos coercitivos ao invés de sistemas de recompensas estão certamente contribuindo para a exaustão emocional no trabalho. A ausência de um sistema de recompensas, por si só, pode ser muito frustrante, à medida que independentemente do desempenho ou do esforço, o salário e o reconhecimento serão iguais, o que pode produzir frustração e/ou apatia. Podemos somar a isso o número de horas de trabalho, a falta de variedade nas atividades, o isolamento prático inerente a algumas atividades (e.g. trabalhar horas no computador) ou o isolamento subjetivo (e.g. quando o clima de competitividade ou os métodos coercitivos tornam as pessoas cada vez mais fechadas). Podemos pensar tanto na estafa de quem faz um trabalho que para si mesmo não traz nenhum sentido (não contribui aos seus valores pessoais ou até mesmo é contra seus valores), mas podemos também pensar em profissões cujo envolvimento emocional é tão intenso que fica difícil administrar os sentimentos. Enfim, do ponto de vista do contexto de trabalho, a lista de estressores pode ser enorme.

Outro aspecto importante é o desenvolvimento de atitudes e sentimentos negativos sobre as pessoas com quem se relaciona no trabalho (clientes, colegas, chefes e empregados), muitas vezes culpando-os pelos problemas, o que parece estar relacionado com a exaustão emocional. Tais atitudes e sentimentos podem ser produzidos pela referida estrutura de trabalho, mas também podem advir de padrões de comportamento mais generalizados, que o indivíduo acaba levando para esse novo contexto. A  diferença entre a expectativa sobre o cargo, a carreira e o próprio desempenho e a realidade que muitas vezes se impõe, também pode transformar o indivíduo em um alvo natural de Burnout.

Burnout e Depressão

É crescente o número de pesquisas sobre a Síndrome de Burnout. Os estudos têm encontrado correlação entre Burnout e outros problemas psicológicos, como depressão, ansiedade, somatizações, dores, redução da capacidade de atenção e apatia.

Se pensarmos que hoje em dia a Depressão é uma das principais causas de afastamento médico do trabalho, fica evidente a relação entre Depressão e Burnout. Ainda mais considerando os altos índices de Depressão em grandes metrópolis. Um estudo (São Paulo Megacity) sobre índices de transtornos psicológicos e psiquiátricos em São Paulo revelou que os índices de Depressão e Ansiedade são tão elevados que se assemelham ao de áreas de guerra como o Líbano e a Síria. Ou seja, além de um trabalho desgastante, o paulistano se depara com outros estresses crônicos diretamente relacionados a isso, como por exemplo a distância e o trânsito entre sua morada e seu trabalho, o que por sua vez resulta em menor tempo para si e para a família.

Você tem sintomas da Síndrome de Burnout?

Procure refletir sobre o quanto você se identifica com as afirmativas a seguir, extraídas do Maslach Burnout Inventory (MBI) – o principal instrumento usado pelas pesquisas em Burnout. As afirmativas estão organizadas em três eixos de comprometimento que caracterizam o Burnout.

(1) Eixo 1: exaustão emocional, ou seja, seu esgotamento de energia emocional e fadiga.

Afirmativas:
“Sinto-me emocionalmente esgotado com o meu trabalho”.
“Sinto-me esgotado no final de um dia de trabalho”.
“Sinto-me cansado quando me levanto pela manhã e preciso encarar outro dia de trabalho”.
“Trabalhar o dia todo é realmente motivo de tensão para mim”.
“Sinto-me acabado por causa do meu trabalho”.
“Só desejo fazer meu trabalho e não ser incomodado”.

(2) Eixo 2: Desumanização e distanciamento do trabalho: atitude distante para com o trabalho

Afirmativas:
“Sou menos interessado no meu trabalho desde que assumi essa função”.
“Sou menos entusiasmado com o meu trabalho”.
“Sou mais descrente sobre a contribuição de meu trabalho para algo”.
“Duvido da importância do meu trabalho”.

(3) Eixo 3: Eficácia no trabalho: expectativas de eficácia continuada e de sentir-se realizado por seu trabalho.

Afirmativas:
“Sinto-me entusiasmado quando realizo algo no meu trabalho”.
“Realizo muitas coisas valiosas no meu trabalho”.
“Posso efetivamente solucionar os problemas que surgem no meu trabalho”.
“Sinto que estou dando uma contribuição efetiva para essa organização”.
“Na minha opinião, sou bom no que faço”.
“No meu trabalho, me sinto confiante de que sou eficiente e capaz de fazer com que as coisas aconteçam”.

Síndrome de Burnout: Como prevenir e tratar?

Se você se identificou com as afirmativas dos dois primeiros eixos, e passou longe de concordar com as afirmativas do terceiro eixo, atenção: talvez seu trabalho esteja lhe esgotando emocionalmente e trazendo poucas realizações.

Em termos de possibilidades, seria desejável que o Burnout fosse combatido nas três esferas possíveis:

  1. Organizacional:  estratégias da empresa a serem implementadas em todo o ambiente de trabalho;
  2. Grupal: busca de apoio dos colegas e superiores;
  3. Individuais: aprendizagem de resolução de problemas, de assertividade, de como lidar com os sentimentos e alterar as contingências que estiverem ao alcance do indivíduo, o que por sua vez pode auxiliar a construir estratégias nas esferas anteriores.

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O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais empreenda qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.