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O que é ter “bom senso” nas relações sociais?

Por: Caroline Drehmer Pilatti, psicóloga.

 

Aquilo que costumamos chamar de “bom senso” nas relações sociais não é uma habilidade inata, ou seja, que já sabemos desde o nosso nascimento, ou que já está previamente determinado se seremos ou não competentes nas relações. Na verdade, precisamos aprender em casa, na família, na escola, no trabalho e no convívio com outras pessoas como agir para estabelecermos relações saudáveis.

Às vezes, esta aprendizagem não acontece da forma como gostaríamos e nestes casos a psicoterapia pode ajudar a pessoa a alcançar seus objetivos e estabelecer um convívio mais harmonioso. A psicóloga Caroline Pilatti foi entrevistada a respeito da importância das habilidades sociais nos relacionamentos com as pessoas. Confira a entrevista!

 

1. Qual a importância de ter bom senso no dia a dia (em casa, no trabalho, com amigos etc.), a fim de manter relações saudáveis com as pessoas?

Podemos compreender “bom senso” como a habilidade da pessoa identificar quando e como falar com as pessoas de modo efetivo, sobre os mais diferentes temas, bem como os momentos para calar e manter-se afastada. Isso se chama competência social e é fundamental para mantermos relações saudáveis em casa, no trabalho e com os pares.

 

2. Há pessoas que se relacionam de maneira agressiva ou pouco respeitosa, mas muitas vezes nem percebem. O que isso pode acarretar às pessoas? Por quê?

Se relacionar de forma agressiva costuma trazer prejuízos às relações, pois é comum as pessoas se afastarem ou serem agressivas de volta quando não se sentem respeitadas. Quando uma relação se estabelece sem este parâmetro, é muito frequente que uma das partes da relação se sinta incompreendida ou prejudicada, o que pode acarretar em prejuízos a autoimagem e autoestima desta pessoa.

 

3. E as pessoas que se relacionam de forma muito ingênua? Elas estão mais propensas a serem inconvenientes sem perceberem? Por quê?

É frequente que as pessoas consideradas ingênuas possam ter tido menos variedade de experiências sociais e/ou menos feedback sobre como estão agindo, o que faz com que elas muitas vezes sejam inconvenientes sem perceber. No entanto, ao entrar em contato com situações sociais diversas e ir adquirindo consciência sobre o que está acontecendo, a pessoa torna-se mais habilitada para ser bem-sucedida nos relacionamentos.

 

4. Como identificar se é ou não o momento ideal para fazer algum comentário ou tomar alguma atitude, para não parecer inconveniente em uma conversa?

É importante estar atento aos sinais dados pelas pessoas durante as interações. Nem sempre o outro poderá ou se sentirá à vontade para dar um feedback direto sobre a sua postura. Em grande parte das vezes, expressões faciais, falas evasivas, mudanças repentinas de assunto podem ser formas que os outros usam para demonstrar que o comentário ou atitude não são bem-vindos naquele momento.

 

5. Da mesma forma, pessoas muito espontâneas podem acabar exagerando ao ponto de serem inconvenientes? Por quê?

Neste caso são pessoas com maior facilidade para comunicação, mas que podem exagerar pelo mesmo motivo, ou seja, não estão atentos aos sinais que aparecem e que ajudam a pessoa a identificar se aquele é o momento mais adequado ou não para agir ou falar. A competência social significa exatamente isso: ter habilidades e saber o melhor momento de usá-las.

 

6. Como encontrar equilíbrio a fim de não se tornar inconveniente por excesso de espontaneidade?

Além de estar atento aos sinais que identificam o melhor momento de falar ou agir, é importante que as pessoas atentem para as consequências dos seus comportamentos, ou seja, percebam nas diversas situações sociais o que “funcionou” pois manteve uma interação agradável com outras pessoas e o que causou afastamento, rompimento de laços afetivos, constrangimento do outro etc. É nas experiências sociais que a pessoa adquire este equilíbrio que facilita suas relações, especialmente se o outro puder também ter a liberdade de dizer se não gostou de alguma atitude. E para receber feedback as pessoas também precisam aprender a pedi-lo, o que significa eventualmente saber ouvir algumas críticas.

 

7. Mas existem pessoas que são inconvenientes, têm consciência disso e são assim propositalmente? O que levaria uma pessoa a agir dessa forma? Quais os prejuízos esse comportamento pode trazer a ela?

Algumas pessoas parecem não se importar com a opinião dos outros e podem ser propositalmente inconvenientes em algumas situações sociais. No entanto, com o passar do tempo, esta forma de agir pode trazer prejuízo nos relacionamentos, causando certo isolamento social, pois isso costuma afastar os outros, e como resultado encontramos pessoas tristes e solitárias, que podem vir a desenvolver problemas como a depressão ou transtornos de ansiedade.

 

Caroline Drehmer Pilatti é Psicóloga Especialista em Terapia Comportamental e atua na clínica ACACIA e no Hospital das Clínicas da USP.

Contato: kpilatti@acaciapsi.com

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O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais empreenda qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.