Acácia - Psicologia & Psiquiatria

Mentira: doença, problema emocional, necessidade ou brincadeira?

Todas as afirmações do título estão corretas. Segundo estudos, uma pessoa mente cerca de 200 vezes por dia, uma média de 1 mentira a cada 5 minutos. Muitas vezes são as chamadas “mentira brancas”, termo que vem do inglês white lies, que são aquelas pequenas mentiras que dizemos para evitar conflitos e facilitar a convivência social.

Afinal, se todo mundo decidisse sair dizendo a verdade seria uma grande confusão. Imagine você dizer para o seu par amoroso que detestou o presente, dois tamanhos maiores que o seu? Ou dizer para sua mãe que a comida está muito salgada sendo que ela preparou a refeição com tanto carinho? Essas são situações em que mentir significa não ferir os sentimentos por coisas que podem ser resolvidas, ou seja, o presente pode ser trocado e você pode dizer a sua mãe que está sem fome.

Segundo estudos, a mentira está em nossos genes e a evolução do ser humano só foi possível pela capacidade do homem de lidar com enganos. De acordo com uma pesquisa da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, cônjuges e familiares são vítimas de dois terços das nossas mentiras. Outra pesquisa, também norte-americana, mostrou que vendedores, secretárias de médicos, advogados, psicólogos e jornalistas estão entre os profissionais que mais mentem para se adequar ao convívio social.

Mas, quando mentiras inocentes, que são ditas para não gerar conflitos, se tornam um problema ou até uma doença?

As pessoas tendem a falar a verdade em ambientes nos quais o que elas dizem não é julgado ou criticado, por exemplo. Se uma mãe pune o filho por ter deixado de estudar para ver televisão, a criança tende a relacionar o castigo com o fato de ter dito a verdade e não de ter feito a coisa errada.

Esse é um exemplo de como aprendemos, desde pequenos, que mentir em muitos casos pode ser uma saída para nos livrarmos de discussões ou problemas maiores. Entretanto, quando a mentira começa a prejudicar outras pessoas ou se tornar um hábito tão frequente quanto respirar, é um sinal de alerta.

Mitomania: a doença da mentira

Contar histórias falsas, de forma sistemática, vivendo em um ciclo de mentiras é um transtorno mental chamado de mitomania. A pessoa mente compulsivamente, cria situações falsas, as vivencia e acredita nas próprias mentiras, gerando uma realidade paralela ao seu mundo real.

A mitomania está presente em doenças como a esquizofrenia, mas pode acontecer também com pessoas que passam por grandes traumas e precisam criar um mundo irreal para suportar a dor. As causas da doença estão ligadas a diversos fatores.

É importante diferenciar a mitomania de pessoas como os estelionatários ou fraudadores, que nesse caso usam a mentira como forma de lesar outras pessoas, empresas, etc. Nesse caso não é doença e sim um crime previsto na lei.

A grande diferença é que o mitômano acredita nas próprias mentiras e os estelionatários sabem que a mentira é a ferramenta para obter vantagens e não corresponde à realidade.

Mentira tem perna curta

Para situações mais complexas da vida, como uma traição ou a notícia da morte de um ente querido, é sempre melhor falar a verdade. Mentiras para situações mais complexas precisam ser elaboradas e como diz o ditado popular “tem perna curta”, ou seja, um dia a verdade sempre vem à tona.

Se você tem filhos pequenos ou adolescentes, crie um diálogo aberto e elogie a criança por dizer a verdade. Além disso, dê o exemplo, afinal crianças copiam o comportamento dos pais. Se ao tocar o telefone de casa você manda seu filho dizer que você não está, a mentira começa a se tornar banal.

Outro ponto é que a mentira, quando descoberta, gera a perda da confiança. Já ouviu falar que quando o cristal quebra não pode ser colado? É uma ótima metáfora para a confiança. Quando alguém mente, seja seu chefe, seu subordinado, seu marido, filho, pai ou amigo, por exemplo, a confiança se quebra e demora para ser reconquistada. Quem mente, vive com medo, preocupado, fugindo e fingindo.