Acácia - Psicologia & Psiquiatria

Espelho, espelho meu!

Por: Caroline Drehmer Pilatti

Elas olham-se no espelho. E o que veem?

Geralmente percebem um quadril mais largo do que a propaganda do jeans da moda, ou mesmo coxas que não combinam com o último modelo de saia lançado pela grife famosa. E essa gordura na barriga? Que coisa h-o-r-r-í-v-e-l!! São jovens e precisam fazer algo. Estão na idade de verem e serem vistas, e este corpo definitivamente não combina com os que mostram na mídia.

Mas já é assim há tempos… Desde crianças são caçoadas na escola ou excluídas de atividades como ballet ou ginástica olímpica: “querida, você não tem corpo para nossas atividades, que tal vôlei?”, ou “sou sempre a última a ser escolhida pelo time”… E a cada dia, a cada encontro, todas estas impressões e imperfeições começam a tomar forma… E é preciso fazer algo!

Encontramos um número cada vez maior de garotas nos consultórios de psicologia, nutrição ou mesmo em cirurgiões plásticos, mostrando suas insatisfações com o próprio corpo e a autoimagem. De fato, o culto ao corpo se tornou uma modalidade que vem chamando atenção por produzir uma obsessão pela forma e pela saúde. O discurso do corpo saudável se revela pela busca para atingir um ideal de beleza de acordo com padrões predeterminados.

São mulheres em sua maioria (um homem para cada dez mulheres), muitas vezes jovens e com IMC (Índice de Massa Corporal) normal, em busca de estratégias de autocontrole ou determinação para seguir dietas excessivamente restritivas e uma rotina intensa de atividades físicas.

Esta insatisfação com a autoimagem, a cobrança social, perceber-se diferente dos padrões culturais e fatores biológicos são terreno fértil para o desenvolvimento de Transtornos Alimentares. Nunes et al. (2003), avaliaram uma amostra representativa de mulheres e encontraram 16,5% da população da pesquisa com sintomas de Transtornos Alimentares.
Em outro estudo, Vilela et al (2004) avaliaram 1.807 crianças e adolescentes de 7 a 19 anos e encontraram 13,3% desta população também com sintomas de Transtornos Alimentares. Yager et al (2000) identificaram em sua amostra que cerca de 45% das crianças de ambos os sexos em idade escolar queriam ser mais magras e 37% tentaram perder peso, mas que somente uma pequena proporção delas desenvolvem um transtorno alimentar.

Dentre os principais Transtornos Alimentares estão a Anorexia, a Bulimia e a Compulsão Alimentar. A Anorexia é caracterizada por limitações dietéticas auto impostas, padrões bizarros de alimentação com acentuada perda de peso induzida e mantida pelo paciente, associada a um temor intenso de tornar-se obeso. Geralmente os adolescentes iniciam uma dieta alimentar para perder peso e, gradualmente, desenvolvem uma intensa preocupação em emagrecer. Mesmo estando abaixo do peso esperado, o adolescente continua se sentindo gordo.

Já a Bulimia é caracterizada por repetidos ataques de ingestão excessiva de alimentos (hiperfagia), preocupação excessiva com o controle de peso corporal, levando o paciente a adotar medidas extremas a fim de mitigar os efeitos de engordar da ingestão de alimentos. O indivíduo tenta neutralizar os efeitos engordativos por meio de vômitos auto induzidos, abuso de purgantes, períodos alternados de inanição e uso de drogas, como os anorexígenos e diuréticos, pois há um pavor mórbido de engordar.

O Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica é caracterizado pela ingestão de grande quantidade de alimentos em um período de tempo delimitado (até duas horas), acompanhado da sensação de perda de controle sobre o quê ou o quanto se come. Além disso, a compulsão alimentar também é acompanhada por sentimentos de angústia subjetiva, incluindo vergonha, nojo e/ou culpa.

A imagem corporal é a maneira pela qual nosso corpo aparece para nós mesmos, ou seja, é como o indivíduo se percebe e se sente em relação ao seu próprio corpo. A percepção do próprio corpo, as atitudes, os sentimentos, as sensações e os comportamentos relativos ao corpo são algumas das facetas relacionadas a construção da imagem corporal.

Sendo assim, os transtornos alimentares assumem um viés de distorção da imagem corporal, uma vez que tanto na anorexia quanto na bulimia, por exemplo, ocorre uma preocupação excessiva com o peso e a forma física.

Várias são as estratégias utilizadas pelo terapeuta para ajudar na construção de uma autoimagem satisfatória e desta forma ajudar pacientes que já desenvolveram transtornos alimentares ou que apresentam alguns sintomas. O vínculo terapêutico e a confiança são fundamentais, visto que estas pacientes muitas vezes trazem do seu histórico familiar uma constante de críticas e insegurança. Compreender a funcionalidade dos comportamentos alimentares e sua possível relação com esquiva de atividades desafiadoras também é muito válido. Buscar aproximação e apoio da família e de outros profissionais são apontados como caminhos promissores na literatura. Técnicas de auto monitoramento de alimentação e atividades físicas também fazem parte do suporte.

Mais do que isso, reconhecer o próprio corpo como um instrumento para realizar atividades felizes e prazerosas, fazer o que gosta e conviver com pessoas empáticas que ajudem na aceitação das formas que se tem, são ferramentas fundamentais para a promoção da saúde física e psicológica. A maior parte das vezes, as pessoas são mais gentis e generosas com a nossa imagem do que nós mesmas!

 

Referências

Appolinário, José Carlos, & Claudino, Angélica M. (2000). Transtornos alimentares. Revista Brasileira de Psiquiatria22(Suppl. 2), 28-31. Retrieved March 11, 2016, from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462000000600008&lng=en&tlng=pt.

Carvalho, Renata Silva de, Amaral, Ana Carolina Soares, & Ferreira, Maria Elisa Caputo. (2009). Transtornos alimentares e imagem corporal na adolescência: uma análise da produção científica em psicologia. Psicologia: teoria e prática11(3), 200-223. Recuperado em 13 de março de 2016, dehttp://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872009000300015&lng=pt&tlng=pt.

Nunes MA, Barros FC, Olinto MTA, Camey S, Mari JDJ. Prevalence of abnormal eating behaviors and inappropriate methods for weight control in young women from Brazil: a population – based study. Eat Weight Disord. 2003;8:100-6

Vilella JEM, Lamounier JA, Dellaretti Filho MA, Neto JRB, Horta GM. Transtornos alimentares em escolares. Jornal Pediatr. 2004;80:49-54.

Yager J, Andersen A, Devlin M, Egger H, Herzog D, Mitchell J, et al. Pratice guideline for the treatment of patients with eating disorders. Second edition. In: American Psychiatric Association pratice guidelines for treatment of psychiatric disorders: compendium 2000. 1st edition. Washington (DC): American Psychiatric Association; 2000

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O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais empreenda qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.