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Como falar com as crianças sobre a morte

No dia 2 de novembro é celebrado o Dia de Finados, ou seja, uma data para lembrar-se daqueles que se foram. Essa data nos faz refletir sobre a vida, a morte e o luto. Além disso, para quem tem filhos, fica a dúvida de como falar com as crianças sobre esse assunto. Será melhor usar a velha máxima de que a pessoa falecida virou uma “estrelinha” lá no céu, ou usar outra abordagem, que mostre a verdade sobre a morte?

Embora seja uma decisão muito pessoal de cada família, os pais devem entender que o luto é um processo importante quando perdermos uma pessoa, um animal ou até mesmo um emprego, por exemplo. Ele faz parte da vida e é necessário para reconstruir a vida sem a presença do bichinho de estimação, sem o avô ou até mesmo sem um irmão.

Esse vídeo nos mostra uma forma bastante interessante de como abordar uma criança sobre a morte. Bridgette acaba de perder seu peixinho, o Sprinkles. A mãe dá a notícia de que o peixe está morto e diz que sente muito. A garotinha então se nega a acreditar, dizendo que ele está apenas dormindo. Essa é a primeira das cinco fases do luto, de acordo com a teoria da psiquiatra Elizabeth Ross.

Algum tempo depois, Briggette se mostra triste e parece entender que o peixe morreu. Essa é a fase da depressão, é o momento que ocorre quando as “fichas caem”, ou seja, quando a pessoa finalmente percebe o que aconteceu e se dá conta que não há volta. O sofrimento é profundo, trazendo sentimentos de desesperança, medo e tristeza. O isolamento é natural, assim como o choro e a sensação de perda.

A fase da barganha é aquela em que se negocia. Isso fica nítido quando a garotinha diz que ela gostaria que ele fosse um bom peixinho e voltasse para casa. O enlutado acha que é possível mudar o que aconteceu, de alguma maneira.

Além das fases do luto, o vídeo mostra a importância de se despedir da pessoa/animal falecido. Esse ritual é fundamental e a mãe orienta a garotinha a falar sobre o peixinho e despedir-se dele. Podemos ver então ela chorando, porém é uma situação de raiva e impotência, já que ali ela finalmente vê que não terá volta, o Sprinkles se foi para sempre.

Finalmente, na última cena do vídeo, Briggette aceita que o peixinho morreu, mas tudo ficará bem. Essa é a fase da aceitação. Embora aceitar não signifique esquecer, nessa fase o enlutado consegue falar sobre a morte e modificar o espaço do que foi perdido dentro de si.

As crianças podem ficar muito sensíveis diante da morte, mas devemos lembrar que elas também são capazes de ser resilientes, se recuperando e aprendendo o significado valioso do ciclo da vida. Por isso é importante que – assim como a mãe de Briggette – os pais deem suporte emocional para a criança lidar com a morte e com os sentimentos, que são naturais ao próprio luto. Evitar falar da morte, fingir que não aconteceu ou que é “bobagem”, inventar histórias para enganar a criança, forçá-la a parar de chorar, dizer que ela não deve ficar triste, são exemplos de reações dos pais que só atrapalham a criança a lidar com o luto de maneira saudável.

Quando uma criança, ou mesmo seus pais e familiares, não está conseguindo lidar com um tipo de acontecimento desses, é importante procurar a ajuda psicológica especializada em crianças. Às vezes, a criança pode sofrer calada, com medo de deixar os outros ainda mais tristes, e a psicoterapia infantil é um dos caminhos que pode dar suporte para que ela vivencie os sentimentos inerentes ao luto.

Os pais também podem solicitar ao psicólogo orientações mais específicas sobre como falar com o filho para ajudá-lo a lidar com a morte, seja de um bichinho, seja de um ente querido. Até porque, não raro, os próprios pais também estarão passando por seu próprio processo de luto. Falar sobre isso sem tentar esconder a própria tristeza também auxilia a criança a se sentir à vontade para expor o que está sentindo. Nesse momento, leituras de livros sobre morte para crianças também podem ajudar. Nós lemos e aprovamos o livro sensível e delicado do Frei Betto, chamado “Começo, Meio e Fim”.

 

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O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais empreenda qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.